Entendendo o Filme Interstellar
Ontem vi o filme Interstellar de Christopher Nolan – ou Interestelar, como preferir – e que apesar de durar quase três horas, se vê desde o início até ao fim com bastante facilidade. Os efeitos especiais são muito bons, os atores estiveram bem também, e a história… Bem, a história é de fazer a mente explodir. Acho que a minha ainda não parou de explodir pois ainda estou tentando entender o filme. O Interstellar é um “Big Bang” mental. Além disso, ele suporta vários visionamentos, acho até que o mínimo recomendável deveria ser dois.
Antes de mais quem gosta dos filmes do Nolan vai adorar o Interstellar, todos os filmes dele têm sido muito bons, destaco Memento (2000, Guy Pierce, Carrie-Anne Moss), o qual tem um dos melhores finais que alguma vez vi num filme; The Prestige (2006, Hugh Jackman), que também tem uma revelação final muito boa; Inception (2010, Leonardo DiCaprio, Ellen Page), outro cuja história também “explode a mente”; e claro, os vários Batmans, entre outros.
Sinopse do Interstellar
Numa época em que a humanidade está à beira da extinção devido à escassez dos recursos mais básicos como comida, o personagem principal Cooper (Mathey McConaughey), descobre, devido a um fenômeno estranho, uma instalação secreta da NASA.
Na instalação da NASA, o Professor Brand (Michael Caine) e os seus colegas trabalham num projeto que tem o objetivo de salvar a raça humana da extinção. O projeto consiste em encontrar um planeta habitável, com condições semelhantes às da Terra, que os humanos possam colonizar. Como se não fosse pouco, esse planeta é um de vários possíveis… em outra galáxia!
Felizmente, essa outra galáxia pode ser alcançada através de um buraco-de-minhoca (“wormhole”) perto de Saturno e que foi aparentemente criado por entidades superiores desconhecidas referidas apenas como “Eles”. Vários astronautas foram já enviados para esses planetas, e têm enviado de volta sinais indicando os planetas com as melhores condições (ou com as menos más) para serem o futuro lar dos humanos.
Cooper, ex-piloto da NASA, aceita o pedido do professor Brand para viajar através do wormhole com um pequeno grupo de astronautas entre os quais se inclui Amélia Brand (Anne Hathaway, aqui com um visual que me fez lembrar a Sandra Bullock no bom e recente Gravity), filha do professor Brand, com o objetivo de visitar os três planetas que ainda enviam sinais. Os astronautas levam também embriões que se tornarão a primeira geração de humanos a nascer no novo planeta.
Ao aceitar fazer a viagem, Cooper é forçado a abandonar a família, sobretudo a filha adolescente Murph, com quem tem um forte relacionamento. Tão forte, que vai ser um fator determinante mais adiante.
O Professor Brand tem dois planos possíveis para a salvação da raça humana. Um deles (Plano A) consiste em transportar todos os humanos para o novo planeta, o qual será determinado pela viagem de Cooper. Este plano está dependente da resolução de uma complexa equação matemática, a qual Brand espera conseguir terminar durante a viagem de Cooper.
Do outro lado do wormhole, a vida nos diferentes planetas é afetada por anomalias provocadas pela existência de um buraco negro a que chamam “Gargântua”. Os astronautas irão ainda ter de lidar com diferentes Gravidades e diferentes Tempos.
Fim da sinopse. Ufa.
Opinião sobre o Interstellar
Gostei bastante do Interstellar, durante a primeira metade do filme parece não acontecer muito mas neste filme até os mais pequenos detalhes são importantes (por exemplo, o “fantasma” de Murph), boa parte do filme é passada com explicações sobre o que estamos a – ou iremos – ver, mas mesmo todas essas explicações não parecem ser suficientes, sobretudo para a inacreditável (e confusa) parte final. Não deixe de ver o início nem o final pois ambos estão interligados.
A parte final, com Cooper no buraco negro, deixa mais perguntas do que respostas, e a possível explicação dada pelo próprio Cooper não parece satisfazer a nossa, agora, espicaçada curiosidade. Pelo que ele diz, os misteriosos “Eles” são na verdade humanos do futuro, que nos ajudam de forma a garantir que consigamos salvar a raça humana para que Eles (nós) possam existir. E para “Eles” não existe Tempo da forma como nós o experimentamos; por exemplo, enquanto que para nós passado, presente, e futuro existam como conceitos separados, para Eles tudo existe em simultâneo.
Gostei da forma como o buraco negro foi mostrado, em vez do habitual círculo negro que suga tudo ao seu redor com força (gravidade) imparável, no Interstellar temos uma esfera que mais parece uma enorme bola de vidro refletindo o espaço negro ao seu redor, e que, não fosse pelo fato de serem coisas quase totalmente diferentes, poderia fazer lembrar A Esfera do filme com Dustin Hoffman.
Afinal, a esfera no Interstellar nada mais é do que o buraco negro a que estamos habituados de outros filmes, mas tridimensional. E agora que sei isto, já nunca mais verei um Buraco Negro sem pensar que está apenas em duas dimensões.
Talvez o fato mais interessante do filme seja que a parte científica da história não é uma fantasia criativa do autor mas ciência real, ou pelo menos, uma teoria real suportada pelas opiniões de quem entende do assunto, neste caso o físico Kip Thorne. O que significa que o que vemos no Interstellar tem mais possibilidade de acontecer do que, por exemplo, o planeta Terra ser invadido por robôs gigantes que conseguem transformar-se em camiões (foi fácil agora, este era o exemplo mais óbvio).
Detalhes de que gostei
Gostei da relatividade temporal… O detalhe de que cada hora que os personagens passam no Planeta de Miller equivale a sete anos fora dele. O que é feito evidente quando Cooper e Amélia regressam à nave e são recebidos por um Rommily envelhecido mais de vinte anos, enquanto eles apenas envelheceram algumas horas. Ao regressar à nave, Cooper apressa-se a ver as mensagens em vídeo enviadas durante anos pelos seus filhos, agora adultos.
A reação de Cooper quando a professora da filha fala sobre os livros de história terem sido substituídos por versões “corrigidas” é muito boa.
A cena de despedida de Cooper com a filha Murph é comovente.
O momento em que a agora adulta Murph revela a verdade sobre o plano de Brand a Cooper e Amélia.
O filme não tem muitas cenas de ação, mas as que tem são muito boas, por exemplo a cena no Planeta de Miller quando a nave quase é engolida por uma onda gigante é de prender o fôlego. E pensar que a água estava tão calminha há momentos atrás.
Ainda no Planeta de Miller quando Amélia conclui que, devido à diferença como o tempo é sentido neste planeta, a nave que enviou os sinais durante anos (tal como era percebido na Terra), na verdade apenas tinha chegado ao planeta há minutos.
Como o personagem de Michael Caine vai parecendo cada vez mais velho, aparentemente sem ajuda de maquilhagem.
Os robôs TARS, nunca vi nada como eles antes, e ainda não sei como conseguem mover-se sem tropeçar em… Bem, tudo. A cena em que o robô salva Amélia da onda gigante foi boa, mas também aqui não percebi como ele pôde mover-se tão rápido e ainda manter a mulher nos “braços”. Gostei do “nível de honestidade” do robot ser 90%, o que certamente é bem mais do que o de certas pessoas!
A instalação secreta da NASA que Cooper e a filha descobrem é na verdade uma enorme nave espacial supostamente capaz de transportar os humanos restantes na Terra para o novo planeta. (Embora isto nunca fosse acontecer devido ao plano A do professor Brand ser impossível de realizar.)
A ideia de Cooper de usar a gravidade do buraco negro para dar impulso à nave, embora isso envolvesse, sem que Amélia soubesse, o sacrifício de Cooper para garantir que Amélia conseguisse chegar ao Planeta de Edmund.
A forma como, apesar dos humanos estarem aparentemente a trabalhar em conjunto para salvar a raça humana, o egoísmo e interesses pessoais ainda se sobreporem, como se viu no caso do astronauta Mann, e na decisão do professor Brand em manter a ilusão de que os humanos na Terra poderiam ser salvos para que continuassem a trabalhar no Plano B pensando que estavam a trabalhar no Plano A.
O poder do amor, primeiro na história de Amélia, depois na de Cooper, neste caso em relação à filha.
Documentário sobre o filme Interstellar
Encontrei o documentário A ciência de Interstellar, que mostra fatos e teorias sobre o que é tratado no filme. No vídeo também poderá ver Cristopher Nolan conversando com Kip Thorne.
Se a sua mente ainda não explodiu, leia isto
Os paradoxos temporais sempre me dão a volta à cabeça: As coordenadas que permitem a Cooper encontrar a instalação secreta da NASA foram-lhe entregues pelo seu eu do futuro!
Isto imediatamente levanta uma questão importante: Se foi Cooper que entregou as coordenadas (em código binário usando os grãos de areia) então isto significa que ele já fez a viagem antes, ou seja, tudo o que vemos já aconteceu antes, ou seja, estamos a presenciar um ciclo que já se repetiu, possivelmente, inúmeras vezes, sendo a que vemos a única que “deu certo”. E que vai continuar a repetir-se, para sempre. (a sua mente explodiu agora?)
Este ciclo só terminaria quando o Cooper do passado, o que recebe a mensagem com as coordenadas, decidisse não fazer a viagem (tal como diz a mensagem “stay”, fica) e permanecer com a família. Mas ele sempre decidiria fazê-la, tal como no filme Triangle a personagem de Melissa George sempre decide repetir o ciclo mesmo sabendo que isto implica a morte de quase todas as pessoas à sua volta.
A saída mais simples é pensar que faz tudo parte do funcionamento normal do universo mas que ainda não conseguimos perceber como tal; como disse o personagem Aaron no filme Primer, “o universo cuidaria para que não existam paradoxos”.
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